domingo, 6 de março de 2016

Aristóteles e Immanuel Kant Aos Que Não Entenderam Filosofia Moral


"O fato de que um homem jamais agirá adequadamente ao que a ideia pura da virtude contém de modo algum prova algo quimérico neste pensamento. Com efeito, todo o juízo sobre o valor ou desvalor moral é, não obstante, possível somente através dessa ideia; por conseguinte, ela encontra-se necessariamente a fundamento de toda aproximação da perfeição moral, por mais distantes que possam manter-nos desta perfeição os obstáculos presentes na natureza humana" (KANT, 1980, p. 187).
                                           
Se os que dizem que a Ética é um ideal inatingível lessem mais esta parte, saberiam que, sim, a moral é um ideal, mas um ideal necessário, NECESSÁRIO. A nossa razão humana tem a necessidade de estabelecer uma virtude como modelo para toda ação. Isso significa que temos que tomar a moral como modelo, modelo que guie nossas ações, mesmo que não consigamos (até porque é realmente impossível e ultra-humano) encarnar o ser moral em toda a sua amplitude.
Ou seja, nunca foi estabelecido que devemos encarnar o ser moral em toda sua totalidade. Mas devemos (DEVEMOS!) fazer da moral um modelo acima de qualquer espaço e tempo para nosso comportamento. E ainda existem outros que se utilizam do argumento sem fundamento, dizendo que os livros de ética não tornarão ninguém ético, não ensinarão ninguém a ser ético. Com certeza não! E nunca algum filósofo escreveu ética para educar as pessoas eticamente, porque filósofo que é filósofo, com todo rigor, tem consciência disso, de que é só através da prática de bons atos é que se pode ser uma boa pessoa e não através de leituras. Quanto a isso, escreve Aristóteles:

"É acertado, pois, dizer que pela prática de atos justos se gera o homem justo, e pela prática de atos temperantes, o homem temperante; sem essa prática, ninguém teria sequer a possibilidade de tornar-se bom. Mas a maioria das pessoas não procede assim. Refugiam-se na teoria e pensam que estão sendo filósofos e se tornarão bons dessa maneira. Nisto se portam, de certo modo, como enfermos que escutassem atentamente os seus médicos, mas não fizessem nada do que estes lhes prescrevessem. Assim como a saúde destes últimos não pode restabelecer-se com tal tratamento, a alma dos segundos não se tornará melhor com semelhante curso de filosofia" (1987, p. 31).

Vocês que acusam a Ética e Moral de puras utopias, aprendam: o valor moral consiste no esforço do agente em se aproximar o quanto possível do modelo de ação moral. Ou seja, como diria Aristóteles: nem excesso, nem a carência, mas a justa medida, o justo meio. Aí consiste o valor da ação moral. Portanto a moral é um parâmetro e não uma ideia a ser incorporada.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural,1987.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Nova Cultural, 1980.