sábado, 5 de agosto de 2017

as cartas

as cartas
as cartas, ora, onde estão?
as cartas
as cartas, são pequenas máquinas antigas de fotografias
as cartas parecem fotos em preto e branco
aquele cinza do céu
as cartas contaram muito de mim
as cartas contaram muito de ti
as cartas contaram sobre o mundo
as discussões sobre a vida
sobre os discos voadores
sobre as vidas extraterrenas
esse meu espirito zombeteiro
de demônio mal exorcizado
essa minha alma meio triste e meio alegre
essa minha mania de sumir e de des-sumir
parece que as cartas não te seguraram
as cartas
a cartografia da hidrografia que fazia a geografia do teu corpo naquele dia de sol filhadaputa
aquele sol
era o sol ou era o meu toque que te fazia pingar de corpo nu
cada pingo em cada carta daquelas que eu te escrevi
eu quase desisti
fraquejei
me ajoelhei
pedi tanto
tanto como o tonto das canções de amor que nunca mais tocaram no rádio
hoje ninguém mais ouve rádio
hoje já não se fala de amor
hoje foi essa saudade de cartas que guardaram muito da gente
dessa gente chamada humana
as cartas
as cartas
eu nunca mais atendi a nenhuma ligação depois que inventaram o celular
se eu sumir
o vento um dia se encarregará de varrer a tua calçada