Esse Blog é reservado para a publicação de textos autorais como contos, crônicas, poesias, ensaios críticos sobre livros, filmes e música, abordando temas da vida cotidiana, da sociedade, do mundo, do cosmos. Aqui você encontrará Eu Vomitando ideias através de palavras.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Em Cada Manhã Eu Encontro Um Pouquinho do Jeito Que É Somente Seu
Te esquecer,
Como posso te esquecer,
se em cada manhã eu encontro um pouquinho do jeito que é somente seu?
Te negar,
Como posso te negar,
se o pulsar do meu eu se impregna do teu e negar-te seria me anular?
Pra que brigar,
se esqueceste suas roupas em minha gaveta e a chave a gente perdeu?
(Matheus Queirozo)
A Água Viva Chamada Clarice
"Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração"
(Clarice - Caetano Veloso)
Falar de Clarice Lispector é difícil, ela não cabe em rótulos. É uma escritora que não foi feita para todos os leitores. Sua obra é de uma introspecção tamanha que já foi considerada uma escritora hermética, de difícil compreensão. Clarice cria uma atmosfera quase que metafísica em sua obra no sentido de que não é uma autora que trata de fatos históricos, não trata de uma cronologia linear de sucessão de fatos obrigatoriamente ordenados, onde uma tal desordenação provocaria o desentendimento de sua obra. Clarice é uma autora que está além do entendimento."Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" (LISPECTOR, Clarice. Água Viva. São Paulo: Círculo do Livro, 1973, página 23).
A obra de Clarice Lispector não se compreende: lê-se.
Água Viva de Clarice é uma
narrativa poética, toda feita em primeira pessoa. Não encontramos diálogo. É um
monólogo. Quem sabe um diálogo da personagem consigo mesma? Não é de se
descartar tal possibilidade. É uma narrativa que não segue roteiros. Uma
narrativa que segue a ordem da espontaneidade: “Escrevo-te em desordem, bem sei. Mas é como vivo” (LISPECTOR,
Clarice. Água Viva. São Paulo: Círculo do Livro, 1973, páginas 86, 87).
É um romance que possui uma narrativa poética que nos mostra uma pintora. Qual seu nome? Não nos e dado o conhecimento. Entretanto, essa pintora se põe a trabalhar, nos instantes em que se sucedem, não com pincéis e tintas,
mas com palavras e papéis. No decorrer do livro, ela vai falando sobre quase
tudo que o leitor imaginar, sobre suas vivências, seus pensamentos, suas impressões, suas crises, sua
insônia - cuidado, insônia contagiante -, seus sentimentos: “Esta é a vida vista pela vida” (idem, página 13).
Ela (ela quem? a personagem pintora ou Clarice Lispector? O fato é que criador e criatura se confundem e não se sabe quem é quem) escreve o livro todo sem se deter num momento, ela pinta nas letras os instantes que se sucedem incessantemente. O livro é quase que um louvor ao instante: “Isto não é história porque não conheço história assim, mas só sei ir dizendo e fazendo: é história de instantes que fogem como os trilhos fugitivos que se veem da janela do trem” (idem, página 87). Ela escreve para alguém, no entanto alguém que nunca nos é revelado. Assim, ela diz para seu possível remetente: “Também tenho que te escrever porque tua seara é a das palavras discursivas e não o direto das minhas pinturas” (páginas 10, 11); “Quero escrever-te como quem aprende. Fotografo cada instante” (página 13); “Tente entender o que pinto e o que escrevo agora. Vou explicar: na pintura como na escritura procuro ver estritamente no momento em que vejo” (página 90).
Ela (ela quem? a personagem pintora ou Clarice Lispector? O fato é que criador e criatura se confundem e não se sabe quem é quem) escreve o livro todo sem se deter num momento, ela pinta nas letras os instantes que se sucedem incessantemente. O livro é quase que um louvor ao instante: “Isto não é história porque não conheço história assim, mas só sei ir dizendo e fazendo: é história de instantes que fogem como os trilhos fugitivos que se veem da janela do trem” (idem, página 87). Ela escreve para alguém, no entanto alguém que nunca nos é revelado. Assim, ela diz para seu possível remetente: “Também tenho que te escrever porque tua seara é a das palavras discursivas e não o direto das minhas pinturas” (páginas 10, 11); “Quero escrever-te como quem aprende. Fotografo cada instante” (página 13); “Tente entender o que pinto e o que escrevo agora. Vou explicar: na pintura como na escritura procuro ver estritamente no momento em que vejo” (página 90).
O livro todo é uma viva
espontaneidade que salta aos olhos, onde a vida vai correndo em cada letra, em cada
palavra, em cada frase, tudo vai correndo e o leitor se envolve de uma maneira ofegante, o
leitor fica quase sem respirar de tanto correr junto à personagem que idolatra o que existe em cada
instante e idolatra o eterno passar desses instantes. O próximo segundo é sempre
imprevisível. O próximo momento é sempre indomável, ele escapa a qualquer
planejamento, foge das mãos de quem tenta segurá-lo, e esse é o gostoso da
vida, aí consiste a vida. O gostoso de ler Clarice Lispector é que sua
narrativa é viva e flui como água.
sábado, 7 de novembro de 2015
Racionalismo Versus Empirismo e a Resolução Kantiana Dessa Problemática do Conhecimento
I
Discutir
Racionalismo e Empirismo é estar discutindo dentro de uma parte da Filosofia
chamada Teoria do Conhecimento. E o que
seria isso? Basicamente, Teoria do Conhecimento é a parte que investiga o
que é a verdade, o que é o conhecimento, qual sua origem e quais seus elementos
constituintes. Dentro dessa gaveta do armário chamado Filosofia, estão diversos
pensamentos e teorias que divergem entre si. Podemos dividir essas teorias em
duas partes: as racionalistas e as empiristas. Cada qual responde o que é
o conhecimento à sua maneira. São correntes opostas no jogo da Filosofia.
Mas o que
é o Racionalismo e o Empirismo? O que significam?
Terminologia
das palavras:
Racionalismo:
deriva do latim ratio, que significa
razão.
Empirismo: latim empiricus,
“médico com experiência”; do grego empeirikós, que significa experiente, de empeiria, “experiência”.
Segundo o
livro Café Philo, vários autores, páginas 23 e 25:
"Racionalismo:
doutrina que atribui à razão o poder de
conhecer a verdade".
"Empirismo:
doutrina segundo a qual a fonte de todo
conhecimento está na experiência".
Segundo o
Dicionário Básico de Filosofia de Hilton Japiassú e Danilo Marcondes, páginas 84 e 233:
"Racionalismo: doutrina que privilegia a razão dentre todas as faculdades humanas, considerando-a como fundamento de todo conhecimento possível. O racionalismo considera que o real é em última análise racional e que a razão é portanto capaz de conhecer o real e de chegar à verdade sobre a natureza das coisas".
"Empirismo:
doutrina ou teoria do conhecimento
segundo a qual todo conhecimento humano deriva, direta ou indiretamente, da
experiência sensível externa ou interna. Frequentemente fala-se do 'empírico' como daquilo que se refere à experiência, às sensações e às percepções,
relativamente aos encadeamentos da razão".
São
correntes situadas na Modernidade, portanto, falar de Racionalismo e Empirismo é
falar de uma discussão moderna. Será mesmo? Se analisarmos bem a história da
Filosofia, perceberemos que, desde quando Filosofia é Filosofia, existem
dois tipos de pensamentos, contrários entre si, que levantam grandes discussões
sobre a origem do conhecimento e o que seja a verdade. Podemos dizer, com algum
cuidado, que os filósofos pré-socráticos Heráclito
e Parmênides já estavam dentro da
gaveta da Teoria do Conhecimento, quando o primeiro defendia que os sentidos
não nos enganam, que o conhecimento verdadeiro surge a partir dos sentidos, que
o mundo concreto é o que contém verdade; e o segundo, que os sentidos são
enganosos, que o conhecimento verdadeiro está situado na Razão, no pensar, no
que ele chamava de Ser. Mas, o debate propriamente dito entre Racionalismo e
Empirismo, dá-se na Idade Moderna. Trabalharemos aqui com dois filósofos que
tomaram a frente da discussão no seu tempo, são eles: René Descartes e David
Hume.
Em Teoria do Conhecimento, temos que considerar, como pressuposto, o seguinte:
Em Teoria do Conhecimento, temos que considerar, como pressuposto, o seguinte:
O conhecimento se dá a
partir de dois elementos essenciais:
SUJEITO ---- OBJETO
O conhecimento exige um sujeito, que conhece, e um objeto, a ser conhecido. Geralmente chamam o sujeito de Sujeito do Conhecimento ou Sujeito Cognoscente, palavra essa que remete a gnose, ou seja, conhecimento.
O conhecimento exige um sujeito, que conhece, e um objeto, a ser conhecido. Geralmente chamam o sujeito de Sujeito do Conhecimento ou Sujeito Cognoscente, palavra essa que remete a gnose, ou seja, conhecimento.
Mas as perguntas são:
*De onde
vem, como começam as ideias?
*Qual a
origem do conhecimento?
Como
respondem os dois filósofos acerca dessas questões?
Nascido
na França, 31 de março de 1596 – falecido em 11 de fevereiro de 1650, foi um filósofo, físico e matemático francês. Muitos especialistas afirmam que, a partir de
Descartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. Para Descartes o conhecimento
verdadeiro vem da Razão, do pensamento, da sabedoria. Tudo o que nos é externo
é duvidoso, pois é temporal, passageiro, perecível e enganoso:
“Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro,
aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que
esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em
quem já nos enganou uma vez” (Meditações Metafísicas. (Os
Pensadores) São Paulo: Abril Cultural, 1983).
Então, a
partir dessa reflexão, o filósofo francês vai defender que as ideias e o
conhecimento verdadeiro têm origem na Razão. Temos ideias que nascem conosco,
ideias essas que estruturam nossas percepções, nossas sensações efêmeras e
desorganizadas. Portanto, é somente nessas ideias que existe a realidade imutável
e, por isso, verdadeira.
Nascido
na Escócia, 7 de maio de 1711 – falecido em 25 de Agosto de 1776, foi um filósofo, historiador e ensaísta que se tornou célebre por seu empirismo radical. Ao lado de John Locke e George
Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo
britânico.
Para Hume os sentidos e a
experiência não são enganosos, muito pelo contrário, só através da experiência é
que se pode ter a ideia de algo, de algum objeto, e só através dela é que se
pode provar de forma objetiva algum pensamento. E todo o nosso pensamento é
produto da experiência. Nascemos e no decorrer da vida vamos somando várias
impressões externas e vamos criando ideias, pensamento e conhecimento. E só
essa experiência dá firmeza e verdade aos pensamentos.
“Pelo termo impressão entendo, pois, todas as
nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos,
desejamos ou queremos”.
“Entretanto, embora nosso
pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de
um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites
muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade
de combinar, de transpor, aumentar ou de
diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência.
Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas ideias compatíveis,
ouro e montanha, que outrora conhecêramos”.
“Se analisamos nossos
pensamentos ou ideias, por mais compostos ou sublimes que sejam, sempre
verificamos que se reduzem a ideias tão simples como eram as cópias de
sensações precedentes”.
“A ideia de Deus,
significando o Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, nasce da reflexão
sobre as operações de nosso próprio espírito, quando aumentamos indefinidamente
as qualidades de bondade e de sabedoria”.
(Investigação
sobre o entendimento humano. (Os Pensadores) São Paulo: Abril Cultural, 1980).
II
Essa discussão terá fim após tais argumentações? Não. Tenha certeza que não terá fim. Aliás, não teve fim. E nem terá. Perto do fim da Modernidade, o filósofo alemão Immanuel Kant, em sua obra Crítica da Razão Pura,
tentou conjugar as duas correntes de pensamento dizendo que elas não devem se contrapor, mas, sim, se complementar. O fato é que é um jogo de pensamentos que sempre permeou e permeará o debate filosófico no que concerne à teoria do conhecimento.
Kant diz que, sim, o plano sensível é efêmero, mas que somente por ele é que podemos comprovar uma ideia, ou seja, só a partir da experiência é que podemos tornar um conhecimento objetivo. Ideias sem objetos que lhes correspondam são ideias vazias e objetos sem ideia que lhe classifique são objetos desconhecidos. A realidade exterior concreta não é ilusória nem duvidosa, são os juízos que acabam não correspondendo ao objeto. Por exemplo: se eu enuncio que uma flor é branca e depois ela ficar amarelada, não é a flor que é duvidosa ou falsa, ela apenas segue seu ciclo natural de envelhecimento, mas meu juízo acerca dela é que será falso. Portanto nada tem que ver com o objeto, ele não é uma ilusão.
O sujeito carrega consigo em sua mente ideias que classificam aquilo que ele recebe como impressões exteriores. Tudo o que o sujeito sente que vem de fora é ordenado e classificado por ideias, conceitos, pensamentos. O conhecimento só tem validade objetiva quando se adequar a uma experiência que o comprove. Em sua primeira Crítica Kant afirma que quando o conhecimento tenta se elevar acima da sensibilidade, quando tenta fugir do campo da experiência, ele se torna um conhecimento dialético, ou seja, um conhecimento falso, ilusório, caindo numa lógica da ilusão, repleta de pensamentos vazios. Daí a importância da conjugação entre racionalismo e empirismo.
A Dialética de Platão e Sua Importância Para Os Nossos Dias
I
História da Dialética
O que você pensa quando lê ou ouve a palavra dialética? O que lhe vem em mente?
Você alguma vez já associou esta
palavra à palavra diálogo? Dialética;
diálogo. Parecidas? Mais que isso:
Dialética é uma palavra com origem no termo grego dialektiké e significa “a
arte do diálogo”, “a arte de debater”.
Dialética
/ \
Dia = dois Lética = lógos, discurso
|
Muitos foram os pensadores que
fizeram uso desse termo e basicamente em todos eles a palavra dialética remete
a movimento. Mas que tipo de movimento? O que dialética tem a ver com movimento?, você deve estar pensando. Precisamos, então, nos aprofundar um pouco mais para entender. Se na dialética, no diálogo, são necessários duas pessoas ou mais dialogando, conversando, debatendo as suas ideias, isso quer dizer que, para que cheguem a uma conclusão, é como se estivessem fazendo suas ideias contrárias, diferentes, que entram em
conflito e acabam por chegar, atingir, alcançar uma ideia conclusiva. Em resumo, a dialética
é esse movimento: o debate entre duas ou mais ideias que, através de um processo utilizando a lógica racional como guia, chegam em uma ideia final. A esse movimento, que vai das ideias múltiplas para uma ideia conclusão, chamamos dialética.
“Dialética era, na Grécia antiga, a arte do
diálogo. Aos poucos, passou a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por
meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os
conceitos envolvidos na discussão” (KONDER, Leandro. O que é dialética.
São Paulo: Brasiliense, 2006, pág. 7).
|
Na história da filosofia, esse termo
é utilizado desde a Grécia antiga até a nossa contemporaneidade. Podemos destacar, como exemplo, de lá para
cá os pensadores: Heráclito, Zenão, Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Fichte, Hegel, Marx, Engels, Karl Popper, Adorno e Horkheimer.
Heráclito, que é considerado um filósofo da natureza, ou seja, um pré-socrático, afirmava que tudo é
passageiro, que na realidade concreta o que existem são múltiplos, e que esses múltiplos são
contrários entre si e que estão em um eterno devir, um eterno movimento, onde nada é eterno, tudo é efêmero. Para o pré-socrático, a realidade é composta de contrários que
estão sempre em conflito, e esse conflito é de grande importância, pois ele é necessário para o surgimento daquilo que é novo, do novo ser, do novo objeto. É de Heráclito a frase que afirma que o
homem não se banha duas vezes no mesmo rio, porque nem ele é mais o mesmo, nem
o rio. Isso quer dizer que o rio de agora não é mais o rio de segundos atrás, pois passou; e o homem com certeza também não é o mesmo, com outros pensamentos, outros pontos de vista.
Dentro do horizonte filosófico,
iremos analisar de maneira breve a Dialética de Platão.
II
Nasceu em Atenas em 428/427 a. C. e faleceu em Atenas em 348/347 a. C., foi um filósofo grego, autor de várias obras filosóficas escritas em diálogos, foi fundador da primeira instituição de educação superior do ocidente.
Para Platão, a dialética é todo o processo que parte das opiniões sensíveis e contrárias para progredir para a Ideia. Encontramos a dialética nas obras em diálogos que ele escreveu. Platão se utiliza de Sócrates para expor suas ideias como uma espécie de homenagem a seu mestre. Cada diálogo é marcado por uma problemática, por exemplo, sobre o que é justiça, sobre o que é o amor, sobre o que é a alma etc. Em cada diálogo Sócrates se defronta com opiniões rasas sobre determinado tema e a partir daí, através de uma discussão, os dois vão modelando tais opiniões, vão saindo do plano da sensibilidade que só nos fornece o passageiro, o mutável, para atingirem o plano das ideias perfeitas, imutáveis, onde residem as ideias de fato, ideias reais. Platão afirma que a filosofia por essência deve ser dialética, porque ela deve percorrer esse movimento que vai do sensível para o inteligível. Isso quer dizer que em Platão a dialética é o caminho para o conhecimento.
Para Platão, a dialética é todo o processo que parte das opiniões sensíveis e contrárias para progredir para a Ideia. Encontramos a dialética nas obras em diálogos que ele escreveu. Platão se utiliza de Sócrates para expor suas ideias como uma espécie de homenagem a seu mestre. Cada diálogo é marcado por uma problemática, por exemplo, sobre o que é justiça, sobre o que é o amor, sobre o que é a alma etc. Em cada diálogo Sócrates se defronta com opiniões rasas sobre determinado tema e a partir daí, através de uma discussão, os dois vão modelando tais opiniões, vão saindo do plano da sensibilidade que só nos fornece o passageiro, o mutável, para atingirem o plano das ideias perfeitas, imutáveis, onde residem as ideias de fato, ideias reais. Platão afirma que a filosofia por essência deve ser dialética, porque ela deve percorrer esse movimento que vai do sensível para o inteligível. Isso quer dizer que em Platão a dialética é o caminho para o conhecimento.
A opinião se baseia apenas na sensibilidade do ser humano, se baseia naquilo que cada um consegue sentir quando entra em contato com determinado objeto. Por isso a opinião é duvidosa pelo fato de que tudo o que está no plano sensível é passageiro. Portanto a opinião não nos dá uma afirmação permanente.
A Ideia é o que há de comum entre determinados objetos, a Ideia é
mental, ou seja, está desprendida da sensibilidade, sendo, então, imutável, a
Ideia não está sujeita às mudanças físicas. Quando se atinge a Ideia, se atinge
também o conhecimento.
Através de um debate, cada
participante expõe sua opinião sobre o que é um cavalo. Cada um vai mostrar seu
ponto de vista e esses pontos de vista entrarão em conflito por serem
contrários. Através desse debate, os dois ou mais que opinaram sobre o que é um
cavalo, vão chegar à ideia de cavalo, e essa ideia de cavalo é a síntese do que
todos os cavalos têm em comum.
III
Qual a importância da Dialética nos dias atuais?
Pergunte-se o que seria do mundo
se cada qual apenas expressasse a sua opinião, uma opinião comprometida apenas
com o ponto de vista de cada um, com a subjetividade de cada um. Seria um mundo
totalmente arbitrário onde não teríamos a ideia de justiça, mas teríamos vários
indivíduos opinando sobre o que pensam ser justiça. O mundo é constituído de contrários, a
realidade concreta é composta por opostos. E isso é importante. Porém, mais importante
ainda é a ideia atingida a partir dessa discussão de opostos. Aí percebemos a
importância da dialética. O que seria de nós se permanecêssemos no plano da
sensibilidade que é mutável? O que seria
do conhecimento se não houvesse o movimento, se não houvesse a dialética, se
não houvesse a ascese do plano sensível para o plano inteligível?
Resposta: viveríamos num mundo de
eternos conflitos que não dariam em lugar nenhum, conflitos sem finalidade. Viveríamos
num mundo superficial cheio de opiniões rasas e não teríamos o conhecimento. E sem o conhecimento, não saberíamos o que é justiça, não saberíamos o que é política, não teríamos parâmetros para guiar nossa linguagem, nossos diálogos, nossa convivência em sociedade.
Assinar:
Postagens (Atom)