Ser escritor. Que loucura é essa? Tem que ser
bancário, tem que seguir carreira de político, empresário, rico, milionário, bilionário, pra comprar o
mundo, as estrelas, os outros planetas, comprar quem sabe essa galáxia ou
aquela outra, quem sabe todas. Comprar pra que, você pergunta? Ora, pra ter.
Ser escritor. Escrever pra quem? Quem quer ler? Ninguém vai ler, estão todos ocupados, como diz a canção composta por Caetano e Gilberto Gil, Panis et Circenses, cantada maravilhosa e psicodelicamente bem pelos Mutantes:
Ser escritor. Escrever pra quem? Quem quer ler? Ninguém vai ler, estão todos ocupados, como diz a canção composta por Caetano e Gilberto Gil, Panis et Circenses, cantada maravilhosa e psicodelicamente bem pelos Mutantes:
Mas as pessoas
na sala de jantar
São ocupadas
em nascer e em morrer
Da esquerda para a direita: sentados, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista; em pé, Caetano, Gil e Rita Lee. |
Ser o quê? Escritor? Risos. Qual sua profissão?
Escritor. Sim, mas qual sua profissão? Escritor. Risos. Depois de uma
monumental gargalhada, alguém desconfia: ele deve ser humorista, só pode. E
abre a risada. Você já abriu um livro hoje? E novamente alguém abre a
gargalhada. Abre livro, fecha livro, abre a boca, boceja, olhos lacrimejando. E
aí, não vai insistir? Vai desistir. Não vai ler. Vai ler as mensagens das redes
sociais, vai ler as mensagens dos aplicativos de relacionamento, vai ler
conversa fútil, vai se ocupar com o inútil.
De cem por cento, metade está ocupada com o inútil, trinta por cento tentando parecer que não está preocupado com o inútil, dez por centro é inútil, e os restantes dez por cento tentam superar a sua inutilidade.
De cem por cento, metade está ocupada com o inútil, trinta por cento tentando parecer que não está preocupado com o inútil, dez por centro é inútil, e os restantes dez por cento tentam superar a sua inutilidade.
Em qual dessas gavetas você está? Em qual produto da
prateleira você está? Somos todos anteriormente fabricados, moldados, para
obedecer, calados, comandados, entalados de enlatados que nos empurram goela
abaixo, porque na hierarquia do sistema estamos embaixo.
O papel do escritor é despertar o leitor através da sua arte. Mas não há leitor. Antes, queimavam-se os livros; hoje, queimam nossos neurônios com coisas vãs.
O papel do escritor é despertar o leitor através da sua arte. Mas não há leitor. Antes, queimavam-se os livros; hoje, queimam nossos neurônios com coisas vãs.
“Conhece-te a
ti mesmo e assim conhecerás o universo”, estava inscrito na entrada do Oráculo de Delfos na Grécia
antiga. Conhece-te a... – não dá tempo, estou ocupado, tenho que ir ao
shopping, comprar isto, assistir aquilo, comer isso aqui, beber aquilo ali,
vomitar, depois comer de novo, ficar com esse gosto de comida requentada na
boca, de novo e sempre, porque sempre foi assim e sempre será, não tem por que
mudar. Quem vai mudar? Querer mudar é sonhar demais, assim como ser escritor é
loucura.
Ser escritor, pra quê? Ninguém vai ler. O bancário
está ocupado contando dinheiro; o advogado está ocupado contando dinheiro; o
empresário está ocupado contando dinheiro; o escritor está ocupado contando
histórias... que ninguém vai ler.