quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Ser Escritor



Ser escritor. Que loucura é essa? Tem que ser bancário, tem que seguir carreira de político, empresário, rico, milionário, bilionário, pra comprar o mundo, as estrelas, os outros planetas, comprar quem sabe essa galáxia ou aquela outra, quem sabe todas. Comprar pra que, você pergunta? Ora, pra ter.

Ser escritor. Escrever pra quem? Quem quer ler? Ninguém vai ler, estão todos ocupados, como diz a canção composta por Caetano e Gilberto Gil, Panis et Circenses, cantada maravilhosa e psicodelicamente bem pelos Mutantes:

Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e em morrer


Da esquerda para a direita: sentados, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista; em pé, Caetano, Gil e Rita Lee.

Ser o quê? Escritor? Risos. Qual sua profissão? Escritor. Sim, mas qual sua profissão? Escritor. Risos. Depois de uma monumental gargalhada, alguém desconfia: ele deve ser humorista, só pode. E abre a risada. Você já abriu um livro hoje? E novamente alguém abre a gargalhada. Abre livro, fecha livro, abre a boca, boceja, olhos lacrimejando. E aí, não vai insistir? Vai desistir. Não vai ler. Vai ler as mensagens das redes sociais, vai ler as mensagens dos aplicativos de relacionamento, vai ler conversa fútil, vai se ocupar com o inútil.

De cem por cento, metade está ocupada com o inútil, trinta por cento tentando parecer que não está preocupado com o inútil, dez por centro é inútil, e os restantes dez por cento tentam superar a sua inutilidade.

Em qual dessas gavetas você está? Em qual produto da prateleira você está? Somos todos anteriormente fabricados, moldados, para obedecer, calados, comandados, entalados de enlatados que nos empurram goela abaixo, porque na hierarquia do sistema estamos embaixo.

O papel do escritor é despertar o leitor através da sua arte. Mas não há leitor. Antes, queimavam-se os livros; hoje, queimam nossos neurônios com coisas vãs.

Conhece-te a ti mesmo e assim conhecerás o universo”, estava inscrito na entrada do Oráculo de Delfos na Grécia antiga. Conhece-te a... – não dá tempo, estou ocupado, tenho que ir ao shopping, comprar isto, assistir aquilo, comer isso aqui, beber aquilo ali, vomitar, depois comer de novo, ficar com esse gosto de comida requentada na boca, de novo e sempre, porque sempre foi assim e sempre será, não tem por que mudar. Quem vai mudar? Querer mudar é sonhar demais, assim como ser escritor é loucura.  

Ser escritor, pra quê? Ninguém vai ler. O bancário está ocupado contando dinheiro; o advogado está ocupado contando dinheiro; o empresário está ocupado contando dinheiro; o escritor está ocupado contando histórias... que ninguém vai ler.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Um poema para minha filha

um pedaço de gente
deitado no meu barrigão
deusa é a sua mãe 
que carregou por nove meses e um dia um pedaço do céu no seu barrigão
não sei o que é ser mãe 
deve ser como ter um pé no céu e outro no inferno
é sentir dor-amor
é sentir qualquer coisa que ultrapasse o ser ontológico homem
é qualquer coisa que nenhuma ciência e filosofia saberão definir
não tem como definir o infinito
eu sinto o amor mais sublime que poderia sentir
porque tem um pedaço do inifnito deitado sobre o meu barrigão
bendita seja a tua mãe

UM POEMA SOBRE O COMEÇO E O FIM DO MUNDO


A arquitetônica planejada cartesianamente com previsibilidade lógica
Esta é a história do Universo?
O que moveu o motor imóvel a arquitetar o que chamamos cosmos?
Antes, caos; repentinamente: FIAT LUX, o caos deu lugar à ordem
 Mundo bosta
O mundo é uma grande bola de bosta
FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE
POESIA ELETRÔNICA DENUNCIANDO ESSE MUNDO BOSTA QUE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE FEDE
Tratemos o quanto antes de devolver o cosmos ao nada-vazio-escuridão-préFIAT LUX
Arrastamo-nos num mundo bosta
A política fede porque você deixou de ser um animal político para ser somente um animal alienado
A arquitetônica planejada cartesianamente com previsibilidade lógica previra isso?
DESLIGA A LUX