Não existe uma verdade absoluta sequer que preencha
totalmente o maior vazio da existência
humana, a dúvida: por que nascemos - por que existimos? É
fato que existem várias e variáveis verdades relativas que rodopiam, rodeiam,
dançam, e sustentam a vida dos seres ditos humanos que habitam o planeta Terra.
Talvez quem melhor se dedicou a debater, com sua carne e
sangue, sobre verdades
absolutas vazias e verdades relativas que sustentam a vida humana foi o
filósofo alemão Friedrich
Nietzsche.
Cito aqui para vocês um trecho do Prólogo de um de seus
livros considerados mais dedo na ferida da humanidade, o
seu Crepúsculos dos Ídolos, publicado originalmente em 1889:
(São Paulo: Companhia das Letras, 2017, pág. 07)
Fica claro que o filósofo tem como
objetivo investigar os ídolos da humanidade, cutucando cada um com seu
impiedoso martelo para identificar o vazio, o oco, desses ídolos e em seguida
arrebentar um a um, deixando-os em infinitos cacos.
Nietzsche deixa claro que este seu livro, que é o seu penúltimo em vida, é uma – como ele mesmo diz – "uma grande declaração de guerra" (idem, pág. 8) a todo ídolo que permeia a nossa humanidade. Ídolo, neste contexto, significa todo tipo de ilusão, de crença, de verdades consideradas absolutas que o homem criou para sustentar sua própria existência, para colocar sentido ao período que ele se rasteja pela face da terra.
O que mais nos diferencia fundamentalmente dos outros seres vivos é a cultura. Digamos que ela tem o papel de, por assim dizer, diminuir na nossa natureza o que nela existe de animalesco. Portanto a cultura é responsável por nos afastar – ou tentar nos afastar – do nosso próprio reino animal.
Para a nossa ciência, o
aparelho psíquico humano é o mais evoluído comparado a qualquer outro ser que conhecemos
até então. Isso permite ao homem a capacidade de recriar. O que quer dizer
que não somos dependentes somente daquilo que a natureza nos oferece,
somos capazes de ir além: podemos interferir na natureza, transformando a
matéria prima, recriando o mundo que nos foi dado. Isso é cultura. É
o cultivar. Cultivar significa, nos dicionários, tratar a terra, criar
artificialmente a partir daquilo que existe de forma natural. E o ser humano
criou. Criamos uma coisa chamada lógica; criamos a linguagem; criamos as
línguas. Transformamos o mundo em letras e números. O universo passou a ser,
então, objeto de investigação.
Infinitas perguntas
sem respostas. Quando nos vimos carentes de sentido de vida – tudo parecia
vazio e obscuro –, criamos nossas próprias respostas. Criamos mundos além deste
próprio. Criamos as religiões, criamos o mundo dos mortos, criamos Hades, o
submundo, o céu, o inferno, o Paraíso, o Juízo Final, os deuses, santos,
rituais sagrados, costumes em cima de dogmas considerados inquestionáveis,
criamos regras para conviver uns com os outros, criamos a sociedade, as leis,
as tábuas, os pergaminhos, os desenhos, os livros, remédios, carroças, carros,
computadores, telefones, mundos virtuais, robôs, bombas, criamos tudo isso para
suportar a vida... ou para morrer mais rápido. E morremos sempre sem saber,
morremos com as nossas próprias verdades.
"E morremos sempre sem saber"
ResponderExcluirfrase que vai de encontro ao imaginário racional imposto a nós.
O famoso Século das Luzes deu à razão humana um poder tão grande que este mero ser começou a acreditar que tudo podia conhecer e dominar. Esse "logocentrismo" nos mimou bastante hehe.
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