"Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração"
(Clarice - Caetano Veloso)
Falar de Clarice Lispector é difícil, ela não cabe em rótulos. É uma escritora que não foi feita para todos os leitores. Sua obra é de uma introspecção tamanha que já foi considerada uma escritora hermética, de difícil compreensão. Clarice cria uma atmosfera quase que metafísica em sua obra no sentido de que não é uma autora que trata de fatos históricos, não trata de uma cronologia linear de sucessão de fatos obrigatoriamente ordenados, onde uma tal desordenação provocaria o desentendimento de sua obra. Clarice é uma autora que está além do entendimento."Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" (LISPECTOR, Clarice. Água Viva. São Paulo: Círculo do Livro, 1973, página 23).
A obra de Clarice Lispector não se compreende: lê-se.
Água Viva de Clarice é uma
narrativa poética, toda feita em primeira pessoa. Não encontramos diálogo. É um
monólogo. Quem sabe um diálogo da personagem consigo mesma? Não é de se
descartar tal possibilidade. É uma narrativa que não segue roteiros. Uma
narrativa que segue a ordem da espontaneidade: “Escrevo-te em desordem, bem sei. Mas é como vivo” (LISPECTOR,
Clarice. Água Viva. São Paulo: Círculo do Livro, 1973, páginas 86, 87).
É um romance que possui uma narrativa poética que nos mostra uma pintora. Qual seu nome? Não nos e dado o conhecimento. Entretanto, essa pintora se põe a trabalhar, nos instantes em que se sucedem, não com pincéis e tintas,
mas com palavras e papéis. No decorrer do livro, ela vai falando sobre quase
tudo que o leitor imaginar, sobre suas vivências, seus pensamentos, suas impressões, suas crises, sua
insônia - cuidado, insônia contagiante -, seus sentimentos: “Esta é a vida vista pela vida” (idem, página 13).
Ela (ela quem? a personagem pintora ou Clarice Lispector? O fato é que criador e criatura se confundem e não se sabe quem é quem) escreve o livro todo sem se deter num momento, ela pinta nas letras os instantes que se sucedem incessantemente. O livro é quase que um louvor ao instante: “Isto não é história porque não conheço história assim, mas só sei ir dizendo e fazendo: é história de instantes que fogem como os trilhos fugitivos que se veem da janela do trem” (idem, página 87). Ela escreve para alguém, no entanto alguém que nunca nos é revelado. Assim, ela diz para seu possível remetente: “Também tenho que te escrever porque tua seara é a das palavras discursivas e não o direto das minhas pinturas” (páginas 10, 11); “Quero escrever-te como quem aprende. Fotografo cada instante” (página 13); “Tente entender o que pinto e o que escrevo agora. Vou explicar: na pintura como na escritura procuro ver estritamente no momento em que vejo” (página 90).
Ela (ela quem? a personagem pintora ou Clarice Lispector? O fato é que criador e criatura se confundem e não se sabe quem é quem) escreve o livro todo sem se deter num momento, ela pinta nas letras os instantes que se sucedem incessantemente. O livro é quase que um louvor ao instante: “Isto não é história porque não conheço história assim, mas só sei ir dizendo e fazendo: é história de instantes que fogem como os trilhos fugitivos que se veem da janela do trem” (idem, página 87). Ela escreve para alguém, no entanto alguém que nunca nos é revelado. Assim, ela diz para seu possível remetente: “Também tenho que te escrever porque tua seara é a das palavras discursivas e não o direto das minhas pinturas” (páginas 10, 11); “Quero escrever-te como quem aprende. Fotografo cada instante” (página 13); “Tente entender o que pinto e o que escrevo agora. Vou explicar: na pintura como na escritura procuro ver estritamente no momento em que vejo” (página 90).
O livro todo é uma viva
espontaneidade que salta aos olhos, onde a vida vai correndo em cada letra, em cada
palavra, em cada frase, tudo vai correndo e o leitor se envolve de uma maneira ofegante, o
leitor fica quase sem respirar de tanto correr junto à personagem que idolatra o que existe em cada
instante e idolatra o eterno passar desses instantes. O próximo segundo é sempre
imprevisível. O próximo momento é sempre indomável, ele escapa a qualquer
planejamento, foge das mãos de quem tenta segurá-lo, e esse é o gostoso da
vida, aí consiste a vida. O gostoso de ler Clarice Lispector é que sua
narrativa é viva e flui como água.
Só aumentastes minha vontade de ler "Água viva"
ResponderExcluirMuito bom mano
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