sábado, 7 de novembro de 2015

Racionalismo Versus Empirismo e a Resolução Kantiana Dessa Problemática do Conhecimento

I


Discutir Racionalismo e Empirismo é estar discutindo dentro de uma parte da Filosofia chamada Teoria do Conhecimento. E o que seria isso? Basicamente, Teoria do Conhecimento é a parte que investiga o que é a verdade, o que é o conhecimento, qual sua origem e quais seus elementos constituintes. Dentro dessa gaveta do armário chamado Filosofia, estão diversos pensamentos e teorias que divergem entre si. Podemos dividir essas teorias em duas partes: as racionalistas e as empiristas. Cada qual responde o que é o conhecimento à sua maneira. São correntes opostas no jogo da Filosofia.

Mas o que é o Racionalismo e o Empirismo? O que significam?

Terminologia das palavras:
Racionalismo: deriva do latim ratio, que significa razão.
Empirismo: latim empiricus, “médico com experiência”; do grego empeirikós, que significa experiente, de empeiria, “experiência”.

Segundo o livro Café Philo, vários autores, páginas 23 e 25:

"Racionalismo: doutrina que atribui à razão o poder de conhecer a verdade".
"Empirismo: doutrina segundo a qual a fonte de todo conhecimento está na experiência".

Segundo o Dicionário Básico de Filosofia de Hilton Japiassú e Danilo Marcondes, páginas 84 e 233:

"Racionalismo: doutrina que privilegia a razão dentre todas as faculdades humanas, considerando-a como fundamento de todo conhecimento possível. O racionalismo considera que o real é em última análise racional e que a razão é portanto capaz de conhecer o real e de chegar à verdade sobre a natureza das coisas".
"Empirismo: doutrina ou teoria do conhecimento segundo a qual todo conhecimento humano deriva, direta ou indiretamente, da experiência sensível externa ou interna. Frequentemente fala-se do 'empírico' como daquilo que se refere à experiência, às sensações e às percepções, relativamente aos encadeamentos da razão".


São correntes situadas na Modernidade, portanto, falar de Racionalismo e Empirismo é falar de uma discussão moderna. Será mesmo? Se analisarmos bem a história da Filosofia, perceberemos que, desde quando Filosofia é Filosofia, existem dois tipos de pensamentos, contrários entre si, que levantam grandes discussões sobre a origem do conhecimento e o que seja a verdade. Podemos dizer, com algum cuidado, que os filósofos pré-socráticos Heráclito e Parmênides já estavam dentro da gaveta da Teoria do Conhecimento, quando o primeiro defendia que os sentidos não nos enganam, que o conhecimento verdadeiro surge a partir dos sentidos, que o mundo concreto é o que contém verdade; e o segundo, que os sentidos são enganosos, que o conhecimento verdadeiro está situado na Razão, no pensar, no que ele chamava de Ser. Mas, o debate propriamente dito entre Racionalismo e Empirismo, dá-se na Idade Moderna. Trabalharemos aqui com dois filósofos que tomaram a frente da discussão no seu tempo, são eles: René Descartes e David Hume.
Em Teoria do Conhecimento, temos que considerar, como pressuposto, o seguinte: 
          O conhecimento se dá a partir de dois elementos essenciais:

                                                                 SUJEITO ---- OBJETO

O conhecimento exige um sujeito, que conhece, e um objeto, a ser conhecido. Geralmente chamam o sujeito de Sujeito do Conhecimento ou Sujeito Cognoscente, palavra essa que remete a gnose, ou seja, conhecimento.

Mas as perguntas são:
*De onde vem, como começam as ideias?
*Qual a origem do conhecimento?
Como respondem os dois filósofos acerca dessas questões?

René Descartes

Nascido na França, 31 de março de 1596 falecido em 11 de fevereiro de 1650, foi um filósofo, físico e matemático francês. Muitos especialistas afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. Para Descartes o conhecimento verdadeiro vem da Razão, do pensamento, da sabedoria. Tudo o que nos é externo é duvidoso, pois é temporal, passageiro, perecível e enganoso:
Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez” (Meditações Metafísicas. (Os Pensadores) São Paulo: Abril Cultural, 1983).

Então, a partir dessa reflexão, o filósofo francês vai defender que as ideias e o conhecimento verdadeiro têm origem na Razão. Temos ideias que nascem conosco, ideias essas que estruturam nossas percepções, nossas sensações efêmeras e desorganizadas. Portanto, é somente nessas ideias que existe a realidade imutável e, por isso, verdadeira.

David Hume

Nascido na Escócia, 7 de maio de 1711 – falecido em 25 de Agosto de 1776, foi um filósofo, historiador e ensaísta que se tornou célebre por seu empirismo radical. Ao lado de John Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico.
Para Hume os sentidos e a experiência não são enganosos, muito pelo contrário, só através da experiência é que se pode ter a ideia de algo, de algum objeto, e só através dela é que se pode provar de forma objetiva algum pensamento. E todo o nosso pensamento é produto da experiência. Nascemos e no decorrer da vida vamos somando várias impressões externas e vamos criando ideias, pensamento e conhecimento. E só essa experiência dá firmeza e verdade aos pensamentos.
“Pelo termo impressão entendo, pois, todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos”.
“Entretanto, embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas ideias compatíveis, ouro e montanha, que outrora conhecêramos”.
“Se analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais compostos ou sublimes que sejam, sempre verificamos que se reduzem a ideias tão simples como eram as cópias de sensações precedentes”.
“A ideia de Deus, significando o Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, nasce da reflexão sobre as operações de nosso próprio espírito, quando aumentamos indefinidamente as qualidades de bondade e de sabedoria”.
(Investigação sobre o entendimento humano. (Os Pensadores) São Paulo: Abril Cultural, 1980).



II



Essa discussão terá fim após tais argumentações? Não. Tenha certeza que não terá fim. Aliás, não teve fim. E nem terá. Perto do fim da Modernidade, o filósofo alemão Immanuel Kant, em sua obra Crítica da Razão Pura

tentou conjugar as duas correntes de pensamento dizendo que elas não devem se contrapor, mas, sim, se complementar. O fato é que é um jogo de pensamentos que sempre permeou e permeará o debate filosófico no que concerne à teoria do conhecimento.

Kant diz que, sim, o plano sensível é efêmero, mas que somente por ele é que podemos comprovar uma ideia, ou seja, só a partir da experiência é que podemos tornar um conhecimento objetivo. Ideias sem objetos que lhes correspondam são ideias vazias e objetos sem ideia que lhe classifique são objetos desconhecidos. A realidade exterior concreta não é ilusória nem duvidosa, são os juízos que acabam não correspondendo ao objeto. Por exemplo: se eu enuncio que uma flor é branca e depois ela ficar amarelada, não é a flor que é duvidosa ou falsa, ela apenas segue seu ciclo natural de envelhecimento, mas meu juízo acerca dela é que será falso. Portanto nada tem que ver com o objeto, ele não é uma ilusão. 
O sujeito carrega consigo em sua mente ideias que classificam aquilo que ele recebe como impressões exteriores. Tudo o que o sujeito sente que vem de fora é ordenado e classificado por ideias, conceitos, pensamentos. O conhecimento só tem validade objetiva quando se adequar a uma experiência que o comprove. Em sua primeira Crítica Kant afirma que quando o conhecimento tenta se elevar acima da sensibilidade, quando tenta fugir do campo da experiência, ele se torna um conhecimento dialético, ou seja, um conhecimento falso, ilusório, caindo numa lógica da ilusão, repleta de pensamentos vazios. Daí a importância da conjugação entre racionalismo e empirismo.



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