sábado, 7 de novembro de 2015

A Dialética de Platão e Sua Importância Para Os Nossos Dias

I


História da Dialética

O que você pensa quando lê ou ouve a palavra dialética? O que lhe vem em mente?
Você alguma vez já associou esta palavra à palavra diálogo? Dialética; diálogo. Parecidas? Mais que isso: Dialética é uma palavra com origem no termo grego dialektiké e significa “a arte do diálogo”, “a arte de debater”.



                                              Dialética
                                                          /            \
                                           Dia = dois            Lética = lógos, discurso

Muitos foram os pensadores que fizeram uso desse termo e basicamente em todos eles a palavra dialética remete a movimento. Mas que tipo de movimento? O que dialética tem a ver com movimento?, você deve estar pensando. Precisamos, então, nos aprofundar um pouco mais para entender. Se na dialética, no diálogo, são necessários duas pessoas ou mais dialogando, conversando, debatendo as suas ideias, isso quer dizer que, para que cheguem a uma conclusão, é como se estivessem fazendo suas ideias contrárias, diferentes, que entram em conflito e acabam por chegar, atingir, alcançar uma ideia conclusiva. Em resumo, a dialética é esse movimento: o debate entre duas ou mais ideias que, através de um processo utilizando a lógica racional como guia, chegam em uma ideia final. A esse movimento, que vai das ideias múltiplas para uma ideia conclusão, chamamos dialética.



Dialética era, na Grécia antiga, a arte do diálogo. Aos poucos, passou a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão” (KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 2006, pág. 7).



Mas, se dialética é a arte do diálogo, então ela é uma conversa qualquer sem finalidade alguma, ou seja, é pura retórica? O que a faz ser diferente da retórica comum, do bate papo sem valor filosófico? Enquanto a retórica é tão somente a arte do diálogo, a arte de bem falar, a dialética é o debate entre opostos que, através desse conflito, desse atrito, chegam a uma conclusão, uma síntese. Portanto, a primeira se resume em oratória, enquanto a segunda se define pelo diálogo de opostos que procuram atingir uma ideia.
Na história da filosofia, esse termo é utilizado desde a Grécia antiga até a nossa contemporaneidade. Podemos destacar, como exemplo, de lá para cá os pensadores: Heráclito, Zenão, Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Fichte, Hegel, Marx, Engels, Karl Popper, Adorno e Horkheimer.
Heráclito, que é considerado um filósofo da natureza, ou seja, um pré-socrático, afirmava que tudo é passageiro, que na realidade concreta o que existem são múltiplos, e que esses múltiplos são contrários entre si e que estão em um eterno devir, um eterno movimento, onde nada é eterno, tudo é efêmero. Para o pré-socrático, a realidade é composta de contrários que estão sempre em conflito, e esse conflito é de grande importância, pois ele é necessário para o surgimento daquilo que é novo, do novo ser, do novo objeto. É de Heráclito a frase que afirma que o homem não se banha duas vezes no mesmo rio, porque nem ele é mais o mesmo, nem o rio. Isso quer dizer que o rio de agora não é mais o rio de segundos atrás, pois passou; e o homem com certeza também não é o mesmo, com outros pensamentos, outros pontos de vista. 
Dentro do horizonte filosófico, iremos analisar de maneira breve a Dialética de Platão.


II



Quem foi Platão?

Nasceu em Atenas em 428/427 a. C. e faleceu em Atenas em 348/347 a. C., foi um filósofo grego, autor de várias obras filosóficas escritas em diálogos, foi fundador da primeira instituição de educação superior do ocidente.
Para Platão, a dialética é todo o processo que parte das opiniões sensíveis e contrárias para progredir para a Ideia. Encontramos a dialética nas obras em diálogos que ele escreveu. Platão se utiliza de Sócrates para expor suas ideias como uma espécie de homenagem a seu mestre. Cada diálogo é marcado por uma problemática, por exemplo, sobre o que é justiça, sobre o que é o amor, sobre o que é a alma etc. Em cada diálogo Sócrates se defronta com opiniões rasas sobre determinado tema e a partir daí, através de uma discussão, os dois vão modelando tais opiniões, vão saindo do plano da sensibilidade que só nos fornece o passageiro, o mutável, para atingirem o plano das ideias perfeitas, imutáveis, onde residem as ideias de fato, ideias reais. Platão afirma que a filosofia por essência deve ser dialética, porque ela deve percorrer esse movimento que vai do sensível para o inteligível. Isso quer dizer que em Platão a dialética é o caminho para o conhecimento.



A opinião se baseia apenas na sensibilidade do ser humano, se baseia naquilo que cada um consegue sentir quando entra em contato com determinado objeto. Por isso a opinião é duvidosa pelo fato de que tudo o que está no plano sensível é passageiro. Portanto a opinião não nos dá uma afirmação permanente.
A Ideia é o que há de comum entre determinados objetos, a Ideia é mental, ou seja, está desprendida da sensibilidade, sendo, então, imutável, a Ideia não está sujeita às mudanças físicas. Quando se atinge a Ideia, se atinge também o conhecimento.


Exemplo do Processo Dialético:

Através de um debate, cada participante expõe sua opinião sobre o que é um cavalo. Cada um vai mostrar seu ponto de vista e esses pontos de vista entrarão em conflito por serem contrários. Através desse debate, os dois ou mais que opinaram sobre o que é um cavalo, vão chegar à ideia de cavalo, e essa ideia de cavalo é a síntese do que todos os cavalos têm em comum.


III



Qual a importância da Dialética nos dias atuais?

Pergunte-se o que seria do mundo se cada qual apenas expressasse a sua opinião, uma opinião comprometida apenas com o ponto de vista de cada um, com a subjetividade de cada um. Seria um mundo totalmente arbitrário onde não teríamos a ideia de justiça, mas teríamos vários indivíduos opinando sobre o que pensam ser justiça.  O mundo é constituído de contrários, a realidade concreta é composta por opostos. E isso é importante. Porém, mais importante ainda é a ideia atingida a partir dessa discussão de opostos. Aí percebemos a importância da dialética. O que seria de nós se permanecêssemos no plano da sensibilidade que é mutável?  O que seria do conhecimento se não houvesse o movimento, se não houvesse a dialética, se não houvesse a ascese do plano sensível para o plano inteligível?

Resposta: viveríamos num mundo de eternos conflitos que não dariam em lugar nenhum, conflitos sem finalidade. Viveríamos num mundo superficial cheio de opiniões rasas e não teríamos o conhecimento. E sem o conhecimento, não saberíamos o que é justiça, não saberíamos o que é política, não teríamos parâmetros para guiar nossa linguagem, nossos diálogos, nossa convivência em sociedade.

4 comentários:

  1. Muito didático e conciso, caro, adjetivos próprios a quem domina o que conhece e ensina bem. Vou até reunir este seu roteiro para planejar uma aula! Grande abraço!

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    1. Grato, primeiramente, pela tua coragem de adentrar as profundezas obscuras desse blog e por ter feito tais elogios! E sobre reunir este roteiro que segue o texto, fica à vontade, todos os textos desse blog são de domínio público e sem fins lucrativos!
      Volte sempre!

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  2. dados de extremo interesse, serviu bem para a minha redacao.
    parabens pelo trabalho...

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