sábado, 6 de abril de 2019

Assim Será O Amor No Fim do Mundo (Capítulo Três)


Capítulo Três






             JÁ FAZIA DOIS DIAS QUE ESTAVAM BUSCANDO POR RESPOSTAS. Fernanda e Flávio tinham deixado o carro para trás. A gasolina não conseguira acompanhar a ânsia de saber o que estava acontecendo com o mundo. Andavam e andavam. Só andavam.  O caminho não apresentava nenhuma novidade. Parecia que estavam dando voltas e mais voltas em torno do mesmo lugar. Tudo era igual.

– Alguém pode me explicar o que tá acontecendo? – gritou Flávio em desespero. – Se isso for uma brincadeira, já conseguiram o que queriam, estamos assustados! – Ele falava como se alguém mais, além de Fernanda, estivesse ouvindo.

Fernanda caiu de joelhos na terra empoeirada. Flávio correu para perto da namorada, segurando sua mão:

– Acho melhor voltarmos pra casa, amor.

– Voltar? – perguntou Fernanda com uma cara transtornada. – Voltar como? Não temos mais gasolina!

– Podemos... podemos voltar a pé! – Flávio falava como se quisesse convencer a si mesmo de que ainda houvesse uma solução para tudo o que estavam vivendo. – Vamos tentar! – Mas sabia que não havia.

Fernanda se levantou num movimento brusco, agarrou a gola da camisa social cheia de botão do namorado, sacudiu seu corpo com uma força que só conseguiu encontrar na raiva de ter que ver Flávio falando aquelas besteiras. Impossível conseguir voltar andando naquelas condições. Fome e sede já começavam a dar fortes sinais no corpo. Estavam visivelmente sem apetite, toda aquela loucura pela qual estavam passando fazia qualquer sujeito perder o tesão por mantimentos. Mas o corpo já começava a padecer por causa das necessidades biológicas por energia.

– Você é um idiota! – disse a moça soltando num empurrão a gola da camisa do namorado. – Não sabe decidir nada, não sabe tomar decisões, nunca soube, muito menos sob pressão!

Flávio caiu ao chão com os olhos fixos, assustados, na namorada. Ela nunca agira daquele jeito. Aquilo assustava o rapaz que sempre a considerou pacata e moderada com as palavras.

– Se... – balbuciou Flávio, perplexo – Se por um lado... eu não sei tomar decisões sob pressão... – Passou a mão na testa, enxugando o suor. – Você, sob pressão, costuma falar o que pensa... Não sabia desse seu lado. Eu sou um inútil pra você, é isso mesmo?

– Não foi isso que eu disse, Flávio.

– Foi praticamente isso.

– Eu te chamei de idi... idi... – Ela não conseguia pronunciar novamente aquele xingamento.

Flávio ficou num impasse. Deveria relevar as palavras duras da namorada. O momento não era dos melhores para  discutirem, estavam de cabeça quente.

– Eu sei que estamos numa situação foda, Fê, mas perder a cabeça nesse momento não vai ajudar a gente.

– Desculpe.. Eu apenas...  – As lágrimas foram inevitáveis. – Não sei o que fazer.

“E    les   eles eles   es    tão  es    tão   es   tão es   tão  per   per   per   dendo o contro le”. Aquele sussurro outra vez.

Os dois se entreolharam. Já tinham ouvido algo semelhante perto de casa. Quem dissera aquilo? De onde viera aquela voz?


                   (Continua no próximo sábado, aqui no Blog Eu Vomitando)

Um comentário:

  1. O ser humano sem direção (sentido) o faz perder a razão, visível nas ações de Fernanda.

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